Leite dos Açores
Nº DE ASSEMBLEIA: XV
O setor de lacticínios açoriano registou um desempenho notável nos anos mais recentes, traduzido por uma oferta crescente de leite e produtos láteos, e pela melhoria global da qualidade da matéria-prima e dos produtos transformados.
A especialização das estruturas produtivas e industriais possibilitaram a construção de uma verdadeira fileira agroindustrial, sendo de realçar o papel determinante desempenhado pelas cooperativas na sua consolidação e robustecimento.
Ao nível da produção primária registou-se um aumento da dimensão das explorações, à custa de um significativo abandono dos produtores de menor dimensão, tendo nas campanhas 1997/1998 e 2011/2012 sido entregues nas fábricas dos Açores, respetivamente, 411 972 153 Kg. e 579 783 014 Kg. de leite, por 5 797 e 3 3170 produtores, ou seja, entre as duas campanhas registou-se um aumento de 40,07% das quantidades de leite entregues nas fábricas e um decréscimo de 45,30% do n.º de produtores, tendo como consequência direta um aumento da quantidade média de leite entregue por produtor, que passou dos 71 066 Kg. na campanha 1997/1998 para os cerca de 176 000 Kg. na campanha 2011/2012.
Embora se tenha verificado, na última década, um aumento significativo dos rendimentos por vaca e da dimensão média da exploração leiteira, continua a imperar a produção em regime de pastoreio extensivo.
Nos Açores, Região que produz quase 32% (31,72%) do leite comercializado a nível nacional, a transformação e comercialização são asseguradas por empresas de dimensão nacional, multinacionais e cooperativas regionais, sendo o Continente o principal mercado de destino dos produtos transformados.
De registar, nos anos mais recentes, uma forte modernização das indústrias transformadoras em todas as ilhas da Região aproveitando o quadro dos incentivos existentes, criando assim condições para poderem ter produtos capazes de competir nos mercados externos. Decorrentes das nossas condições geográficas, os principais destinos do leite recolhido são o queijo, o leite em pó e o leite tratado para consumo público, que, em 2011, atingiam, respectivamente, 28 696 toneladas, 15 778 toneladas e 113 607 914 milhões de litros de leite.
A principal necessidade desta fileira, de importância determinante na economia regional, centra-se, assim, no aumento do valor acrescentado do setor através da melhoria da organização da fileira regional, da modernização e inovação ao nível dos produtos, tecnologias e processos de produção, recolha, transformação, comercialização e, sobretudo, do desenvolvimento e valorização de produções regionais de qualidade diferenciada.
Para este último objetivo, ganha importância redobrada o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nos anos mais recentes pela Universidade dos Açores, pelo INOVA e por outros agentes da fileira, que permitiu já chegar a algumas conclusões que realçam as características positivas e diferenciadoras da qualidade do leite açoriano.
Assim, dos trabalhos já desenvolvidos foi possível concluir-se que o perfil dos Ácidos Gordos (AG) dos produtos dos Açores em relação ao valor dos índices de avaliação nutricional e dietético apresentam caraterísticas de melhor qualidade que os do continente português. Pode ainda concluir-se, que o leite produzido com base no pastoreio possui um perfil de AG com caraterísticas intrínsecas que o diferencia positivamente do leite produzido em sistemas de produção mais intensivos (Bessa e Rego, 2008) , o que por si só é uma vantagem comparativa em função do regime alimentar e do tipo de exploração agrícola predominante na Região.
Esta evolução positiva e a consolidação como fileira não impedem a existência de algumas debilidades, que tornam o setor vulnerável.
A nível interno, o crescente poder negocial exercido pelas grandes superfícies tem conduzido a uma importância acrescida das marcas do distribuidor e dos produtos denominados “primeiro preço”. Deste fenómeno, que se regista em todo o espaço da UE, e tem uma dimensão importante, resulta o esmagamento das margens comerciais das indústrias, com as consequentes implicações que isso tem para o resto da fileira.
Em traços gerais, pode dizer-se que o setor leiteiro a nível regional tem, pois, uma base produtiva organizada, que é muito especializada e que tem um peso de cerca de 54% na produção agrícola regional, resultado das excelentes condições naturais para a produção pecuária, o que atesta por si só a importância que este setor tem, quer na agricultura açoriana quer no contexto da economia regional.