Norte
A insularidade, para um açoriano, não é a circunstância de viver numa ilha! A insularidade é a presença de espírito que ele resistentemente mantém no isolamento; é a força dum vulcão quando rasga o oceano para ver o sol; é a introspeção que resulta do confronto com a grandeza da natureza; é a fé, no meio do mar!
Essa insularidade que emergiu na bruma do Atlântico e une os açorianos, reemergiu então na bruma das margens do Douro.
Tudo começou no verão de 1976 quando um grupo de açorianos se reuniu em Gondomar, em casa do médico faialense Dr. José Eduardo Garcia de Vargas, com a ideia de se criar uma Casa dos Açores no Norte (CAN) do país. O entusiasmo era grande, mas o projeto ainda não estava amadurecido: uma delegação da Casa dos Açores de Lisboa ou uma Casa autónoma? Pouco depois a segunda opção ganhou força irreversível.
E a 6 de março de 1980 dá-se a fundação oficial da CAN.
Em setembro de 1981 é publicado o 1º numero do Boletim Cultural da CAN, no qual o engenheiro Guido Rodrigues, primeiro presidente da Direção, referia a “criação de um órgão regionalista dos Açores no Norte, que permitisse congregar a comunidade residente, no sentido de contribuir, na medida das suas possibilidades, para o desenvolvimento da nossa Terra e para o estabelecimento de elos de ligação com o Norte de Portugal”. Para além dos objetivos implícitos na citação anterior, procurava-se a afirmação da recém-criada instituição, a nível local, regional e nacional. Desde logo, os primeiros Corpos Sociais tinham um desígnio transversal a toda a dinâmica desenvolvida: a obtenção de uma sede própria.
Festas tradicionais, convívios e excursões denotam a preocupação de congregar a pequena comunidade açoriana residente no Norte, a fim de obter algum peso institucional. O Boletim Cultural e Informativo da CAN tem um papel fundamental na divulgação e promoção do “projecto CAN” durante toda a década de 1980.
A formação do Grupo de Cantares da CAN, em 1985, deu um forte contributo para a dinamização da instituição, dado que este levou o nome da Casa junto de audiências, nacionais e estrangeiras. O Grupo de Cantares foi recebido em festa nas Casas dos Açores de Nova Inglaterra, Ontário e Quebeque.
A primeira Festa do Divino Espírito Santo no Porto, em 1987, foi outro fator importantíssimo para a congregação festiva e religiosa de açorianos e também continentais.
A inauguração da sede definitiva, em 1999, permitiu finalmente estruturar numa base forte e credibilizada o projeto inicial da CAN, enunciado em três ideias fortes por Guido Rodrigues, 19 anos antes: “congregar a comunidade”, agora já alargada a um número crescente de associados não açorianos (com os mesmos direitos e deveres dos insulares), “contribuir para o desenvolvimento da nossa terra”, objetivo transversal às atividades promovidas pelos sucessivos Corpos Sociais nas três décadas de existência e “estabelecimento de elos de ligação com o norte de Portugal”, desígnio que se transformou no principal caminho a seguir no presente e no futuro, podendo até ser uma das traves-mestras da CAN, não só pela diminuição de sócios nascidos nas ilhas, mas principalmente devido à situação estratégica privilegiada deste ponto dinâmico da açorianidade no noroeste peninsular, potenciador dos valores culturais, económicos e sociais da Região Autónoma a norte do Mondego, ainda e cada vez mais na perspectiva de serviço aos Açores e aos açorianos.
A preocupação inicial de reunir os associados sob uma perspetiva saudosista deu lugar, à Casa dos Açores do Norte, uma associação sem fins lucrativos de utilidade Pública, que no âmbito do seu objeto social defende os interesses da Região Autónoma dos Açores de forma a contribuir para o seu progresso, desenvolve atividades e presta serviços aos seus associados e demais comunidade da cidade do Porto. Constitui assim, um centro de reflexão e promoção dos interesses dos Açores. Para o efeito, promove e desenvolve, as relações entre o Arquipélago e o Norte de Portugal e a Galiza, nos domínios social, cultural e económicos.
Ao longo da sua existência tem promovido os Açores, a sua cultura, usos e tradições e as suas atividades económicas, através de inúmeras atividades e iniciativas, quer como parceiros, quer como impulsionadores. Tem ainda como objeto social, propor ou sugerir aos poderes públicos ações que visem a defesa dos interesses individuais ou coletivos; celebrar protocolos de colaboração com entidades regionais, nacionais ou internacionais, publicas ou privadas. Apoiar e orientar os açorianos recém chegados ao norte, estudantes, doentes e outros, por fim e, não menos relevante promover a amizade, a aproximação e o conhecimento mútuo entre o povo açoriano, nortenhos e demais.
Casa dos Açores do Norte – uma ilha da cultura açoriana no norte de Portugal.